Uma pessoa amada – IV
Resposta ao desafio da Ana
Passou a saída da autoestrada da povoação que em tempos conhecera, mas esta não saiu dela. De tal forma que passou a andar mais devagar para ter tempo de se recordar daquele fim de Verão antes de chegar ao seu destino.
Era uma miúda, pensou. Mas fosse miúda ou não, ainda agora sentia os lábios frescos de Alcides que, naquela manhã, lhe souberam àquelas peras doces que apanhara ou a mel com o qual barrara a torrada de pão de trigo.
Por fim as palavras ditas por ele assim de chofre, vindas do fundo de um coração puro. Tanto tempo decorrera desde esse triste dia para si e para ele. Conhecera na sua vida muitos homens, alguns falavam-lhe de amor, mas pareciam palavras de plástico, sem gosto nem sabor.
Na realidade Ângela passou a ter como matriz o que escutara na sua juventude. Não eram as palavras em si, mas unicamente a forma como haviam sido proferidas.
Roçava os 30 anos de idade e definitivamente nunca amara ninguém. Nunca? Perguntou a si mesma…
O jovem que conhecera na sua juventude era, sem margem para dúvida, a pessoa que sempre amara e lamentavelmente nunca tivera oportunidade de lho dizer.