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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Perdido!

Mais uma resposta ao desafio da Ana.

 

Gostaria de escutar outra vez o mar

E sentir nas faces sua força pujante.

Encharcar-me de sal e poder sonhar

Como a gaivota no seu voo rasante.

 

Quero ouvir-te chamares por mim,

Eu que te amei sem saber quanto.

Abraçar-te num amplexo assim,

Repleto de risos, alegria e pranto.

 

Eis este escriba de insonsas palavras

Carregadas de tristeza, derrota e dor.

É hora de partir para joviais lavras

Mas falta-me o sol, a luz e o amor.

 

Saio de mansinho para a noite, só

Em busca do verdadeiro sentido.

Reconheço o trilho sinuoso e o pó

Deixai-me finalmente: estou perdido.

Desafio de escrita dos pássaros #3.0 - Tema 4

Mote: "Caramba, quase que conseguia!"

Arcílio leu na porta envidraçada: Brigada de homicídios. Sorriu e ignorou a frase seguinte: proibida a entrada a pessoas estranhas à Brigada.

A sala era enorme assim como a confusão. Agentes ao telefone, outros a interrogarem eventuais suspeitos e mais alguns a olharem para os velhos monitores em busca de uma qualquer informação. Devagar atravessou diversas secretárias e procurou Val no meio daquela amálgama de gente. Não o encontrando dirigiu-se a um agente que pareceu mais livre:

- Bom dia, sou o agente Arcílio e preciso falar com o agente Valdemar por causa de um crime. Sabe onde é a secretária dele?

O outro não tirou os olhos dos papeis apontou para a parte de trás e devolveu:

- O maior monte de papéis que vir é a secretária dele.

- Obrigado.

Passou o olhar rápido pelo resto da sala e logo percebeu qual queria o lugar. Deambulou por entre outras secretárias até que chegou junto da de Val. Por detrás da fortaleza de pastas e processos, encontrou o agente mergulhado em papéis, folheando-os para a frente e para trás comparando, passando a mão pelo cabelo.

- Bom dia Valdemar.

O agente assustou-se dando um salto na cadeira, mas vendo o colega obeso, respondeu:

- Bom Arcílio… Que te trás por cá? Não me vens dar nada, com toda a certeza…

- Precisamos falar sobre a morte da Arcizete.

- Oh pá… tu deixa-me… que esse crime tira-me do sério.

- Porquê? Não avançaste nada?

- Sim e não!

- Explica lá isso…

- Caramba que um destes dias quase que conseguia, mas depois…

Arcílio puxou de uma cadeira para se sentar, mas primeiro teve de tirar um saco de plástico que continha uma tesoura que estava no tampo, colocando-o na secretária respectiva.

- Apanhei um tipo que esteve preso durante uns anos por crimes semelhantes, mas no dia do crime estava no hospital com covid.

- Entretanto não conseguiste mais nada, certo?

- Certo…

- Não fiques aborrecido porque tenho uma boa notícia para ti…

O outro endireitou-se e avançou:

- Conta!

- O Bar Trapas já tem aquele whisky que tanto gostas. O Alcides, é que me mandou dar-te este recado.

Valdemar enterrou-se na cadeira desiludido. Depois ergueu o olhar furioso para Arcílio e retorquiu:

- Tu não podes ser outro… Eu aqui de voltas há semanas com um crime de sangue e tu só preocupado com os copos. Tu vives neste mundo?

Irado, pegou no processo e encostando-o para o lado, aterrou com a cabeça no tampo da secretária e tapou aquela com as mãos entrelaçando os dedos. Depois saiu dessa posição e perguntou finalmente ao colega:

- Sabes se é o whisky de 15 ou 20 anos?

Uma quadra por dia...

Para a Ana!

Ai Santo António padroeiro

Das cidades de Lisboa e Pádua

Continuas santo milagreiro

Sem medo nem uma mágoa.

 

Quem casa neste teu dia

Dizem que o faz por amor

Acreditas nessa profecia

Ou é mais fala que ardor.

 

Vai Santo da capital, vai

Alegrar os jovens corações.

Pois deles o pouco que sai.

É vida feita de explosões.

 

Vou finalmente embora

Já que o dia está no fim

Mas estarei aqui e agora

E um milagre para mim.

Desafio de escrita dos pássaros #3.0 - Tema 3

Mote:  Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

Havia longas horas que Valdemar não tirava os olhos do velho monitor que lhe ocupava metade da secretária. Esta também parecia quase nem existir tal era o profusão de processos que se alastravam por cima do tampo, uns em cima dos outros, em torres de papel pouco equilibradas, não obstante haver um recado permanente e preso num dossier escrito em letras garrafais por ele próprio e que dizia: amanhã dia de arquivo.

Porém todas as manhãs o inspector quando chegava lia o papel e exclamava para si a sorrir: ah é só amanhã. E assim continuava a bagunça. Alguns colegas brincavam com ele por causa daquela desorganização, essencialmente pedindo-lhe informações de crimes resolvidos, mas que poderiam estar relacionados com outros mais recentes, no intuito único de o verem vasculhar no meio de tanta celulose. No entanto Val rapidamente sacava do fundo das resmas do tal processo, deixando os colegas quase sempre muito desconfortáveis.

Mas naquele serão não eram processos para relatar e arquivar que Valdemar buscava, mas tão-somente algo que lhe desse uma indicação, que lançasse alguma luz sobre o crime que tinha entre mãos.

- Que caneco… mas este tipo ou tipa não tem qualquer informação nesta base de dados… nem uma multa de estacionamento… Nada! – desabafou quase zangado.

Sentiu bater no seu ombro e deu um salto na cadeira. Adormecera sem dar por isso a olhar para aquele monstro informático.

- Bom dia Val… ficaste aqui a noite toda ou vieste directamente da borga? – perguntou-lhe o chefe acabado de chegar à Brigada.

Valdemar sentiu-se levemente ofendido, mas nada devolveu ao chefe, a não ser:

- Bom dia Aquiles, fiquei aqui à procura de algo sobre o assassínio de há um mês… e nada! É desesperante…

- Val… vai para casa! E se não conseguires resolver não serás o único. O que falta no arquivo são casos por resolver…

- Ó chefe parece que não me conhece. Eu quando pego numa coisa não a largo até esmiuçar a situação. Mas esta… tem dado água pela barba.

- Ouve… aceita um conselho… vais para casa, dormes umas boas horas, comes devidamente e quando estiveres recomposto regressas. Estás a perder tempo sem ganhar conhecimento. Vá pira-te daqui!

- Mas chefe…

- Em vez de conselho passa a ser uma ordem! Desaparece daqui! Chispa!

Valdemar ergueu-se da sua secretária devagar pegou na capa do processo pouco volumoso e…

- Não aguento mais contigo! - afirmou, enquanto o atirava para longe.

As folhas soltas voaram então pela sala e por cima de uma série de secretárias obrigando-o, antes de regressar a casa, a reunir toda a papelada.