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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Triste evidência!

Entrou em casa em silêncio. Descarregou a mala pesada no corredor, descalçou os sapatos substiutuindo-os por uns chanatos puídos e rotos, despiu o casado pendurando-o no bengaleiro e finalmente entrou na cozinha. A mulher cercada de tachos e panelas a fumegar sorriu quando o viu chegar:

- Olá amor... - e mirando-o, continuou - que tens? Vens com cara de caso...

O marido aproximou-se dela osculou-a na cabeça enquanto respondia:

- Boa noite querida. Não tenho nada... é só cansaço.

Dirigiu-se à mesa onde já residiam apenas dois pratos e perguntou:

- Os miúdos?

- Estão na faculdade até tarde. Têm frequências amanhã, creio.

- Precisamos falar.

- Ai home? O que se passa? Eu bem vi que não estavas bem - e puxando de uma cadeira sentou-se em frente do marido.

Este enfiou a cabeça entre as mãos e mantinha-se em silêncio.

- Ai marido, diz-me tudo. Seja bom ou mau... Estamos cá para resolver as coisas. Como sempre fizemos.

- Desta vez não sei... 

- Ai... não me digas que foste despedido?

- Não... mulher. Nisso está óptimo... É outra coisa.

- Tu não me deixes neste estado que ainda me dá um fanico.

- Sabes como engordei nesta pandemia.

- Pois sei... não tens roupa nenhuma que te sirva...

- Ora já viste a minha vida?

- Ai home' que não percebo o teu problema... Não me digas que apanhaste o bicho? - e sem deixar cair a fala - eu bem que te avisei, mas tu nunca acreditas em mim.

- Não mulher pára! Não é nada disso.

- Então é o quê!

- Já viste se o Sporting ganhar o campeonato não tenho roupa que me sirva para ir para a rua comemorar?