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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Castanho!

Resposta ao desafio da Fátima Bento

 

É a cor da terra, daquela fecunda.

A cor do Outono daquele ventoso.

Castanho é a cor do bagaço após a azeitona moída.

É aquele fruto escondido por entre casulos fechados.

Castanho é a cor das pinhas,

que ajudam a acender na lareira o fogo crepitante,

a cor da caruma espalhada no chão tapando os míscaros verdes e saborosos.

É a cor do cacau e do chocolate.

Do café matinal perfumado e saboroso.

Castanho é a cor de pele: da minha, da tua, de tanta raça.

A cor castanha daquele móvel que aquece a minha sala.

Por fim o castanho da torrada acabada de saltar!

 

O meu amigo mar!

Sentado na areia húmida deixo que a água fria do mar me vá docemente lambendo os pés descalços. Depois olho para aquela imensidão anilada e fico a pensar como poderia ter sido feliz se tivesse sido marinheiro.
Cruzar oceanos, sentir o sal na cara, adormecer a olhar as estrelas e acordar com o sol alaranjado por entre dois azuis....
Gostaria também de poder mergulhar no mar profundo em busca daquele silêncio que só aquele sabe oferecer.
De súbito uma onda veio mais forte e abraçou-me deixando-me encharcado.
Sorri.
Repito para mim mesmo que adoro este azul marinho. Comparado com este só aquele anil açoriano em contraste com o negro das pedras.

O mar o meu amigo para sempre desconhecido!

Da abelha...

Mais um desafio!

Ela entrou devagar no estabelecimento e esperou que o companheiro estivesse livre.

Calcorreou por entre mesas e cadeiras, para finalmente se sentar. A criança já começava a pesar…

Ele ainda não a vira pois estava de costas, mas quando a percebeu no fundo da sala foi ter com ela com um sorriso aberto.

- Viva, vieste cedo… - disse ele.

- Olá amor… A médica despachou-me num instante.

- E…

- E o quê?

- Tu não ias saber o sexo da criança?

- Ia.

- Então…

- Podemos ir para um lugar mais sossegado?

- Claro, vem comigo…

Atravessaram a sala e num recanto onde se distinguia um quadro de ardósia ela comunicou:

- Uma menina… Vais ser pai de uma menina.

Um enorme sorriso aflorou aos lábios dele e depois dela e ambos riram. Ele afagou a barriga já volumosa da companheira e declarou entre risos:

- Já pensaste num nome?

- Já…

- Ana, chamar-se-á Ana!

- Concordas?

- Claro que sim.

Prosa-poema para um qualquer Janeiro!

Oiço-te da sala a rabujar após um sono de passarinho.

Não choras, não gritas apenas pedes que te tirem do berço.

Abro a janela e vejo-te erguida de léxico incompreensível.

Sorris e estendes-me os braços: socorro! Pareces tu dizer.

 

Elevo-te no ar qual pena e ofereces-me um abraço terno,

Como só tu sabes brindar, como só tu sabes desejar.

Aprendo contigo a amar devagar como o pôr-do-sol,

No horizonte de mar anilado. Sinto-me pequeno, frágil.

 

Rebolas alegre no chão e eu rebolo contigo. Brincamos.

Gatinhas entre bonecos e bolas, tapetes e sapatos teus.

A alegria desse teu olhar, o doirado do teu cabelo fino

Fazem-se sentir vivo. Tu és agora o Sol dos meus dias.

 

E a Lua brilhante de Janeiro!

Um ano!

Roubo-te uma gargalhada,

Um beijo terno,

Um sorriso matreiro.

 

Estendes-me os braços

Pequenos e débeis

Qual herói salvador.

 

Recebo-te encantado

Como prenda desejada,

Breve momento singular.

 

Doze meses, um ano,

Já tantas semanas.

E um amor tão fino.

 

Recortado esse amor

em linhas que fui fiando,

Vive hoje e sempre.

 

Pobre escriba é este

Que não sabe traduzir

O que o coração manda.

 

Um dia lerás ou não

Estes pedaços de luz

Que será minha e tua.

Vinte e um!

Cerram-se com vigor os punhos.

Gritam-se alarvemente alegrias,

Sonham-se luminosos Junhos

Repletos de luz e energias.

 

Saiba eu quem somente acredite,

O que tantos outros desejam

Há quem ainda muito medite,

No que os crédulos ensejam.

 

Saiu um ano, entrou um ano,

todavia a dor ainda aqui fica

Sem sequer saber qual o dano

Nem o que aquele significa.

 

Foram dias, semanas, meses,

Abraços e carinhos proibidos

Foram tantas, tantas as vezes,

Que perdemos nossos sentidos.

 

Que possa finalmente eu dar

Aquele abraço sincero, quente

E em vez de um vazio, um mar

De mãos abertas a toda a gente!

 

A esperança mora aqui!