Resposta ao desafio da Fátima Bento
É a cor da terra, daquela fecunda.
A cor do Outono daquele ventoso.
Castanho é a cor do bagaço após a azeitona moída.
É aquele fruto escondido por entre casulos fechados.
Castanho é a cor das pinhas,
que ajudam a acender na lareira o fogo crepitante,
a cor da caruma espalhada no chão tapando os míscaros verdes e saborosos.
É a cor do cacau e do chocolate.
Do café matinal perfumado e saboroso.
Castanho é a cor de pele: da minha, da tua, de tanta raça.
A cor castanha daquele móvel que aquece a minha sala.
Por fim o castanho da torrada acabada de saltar!
Sentado na areia húmida deixo que a água fria do mar me vá docemente lambendo os pés descalços. Depois olho para aquela imensidão anilada e fico a pensar como poderia ter sido feliz se tivesse sido marinheiro. Cruzar oceanos, sentir o sal na cara, adormecer a olhar as estrelas e acordar com o sol alaranjado por entre dois azuis.... Gostaria também de poder mergulhar no mar profundo em busca daquele silêncio que só aquele sabe oferecer. De súbito uma onda veio mais forte e abraçou-me deixando-me encharcado. Sorri. Repito para mim mesmo que adoro este azul marinho. Comparado com este só aquele anil açoriano em contraste com o negro das pedras.
O mar o meu amigo para sempre desconhecido!
Mais um desafio !
Ela entrou devagar no estabelecimento e esperou que o companheiro estivesse livre.
Calcorreou por entre mesas e cadeiras, para finalmente se sentar. A criança já começava a pesar…
Ele ainda não a vira pois estava de costas, mas quando a percebeu no fundo da sala foi ter com ela com um sorriso aberto.
- Viva, vieste cedo… - disse ele.
- Olá amor… A médica despachou-me num instante.
- E…
- E o quê?
- Tu não ias saber o sexo da criança?
- Ia.
- Então…
- Podemos ir para um lugar mais sossegado?
- Claro, vem comigo…
Atravessaram a sala e num recanto onde se distinguia um quadro de ardósia ela comunicou:
- Uma menina… Vais ser pai de uma menina.
Um enorme sorriso aflorou aos lábios dele e depois dela e ambos riram. Ele afagou a barriga já volumosa da companheira e declarou entre risos:
- Já pensaste num nome?
- Já…
- Ana, chamar-se-á Ana!
- Concordas?
- Claro que sim.
Oiço-te da sala a rabujar após um sono de passarinho.
Não choras, não gritas apenas pedes que te tirem do berço.
Abro a janela e vejo-te erguida de léxico incompreensível.
Sorris e estendes-me os braços: socorro! Pareces tu dizer.
Elevo-te no ar qual pena e ofereces-me um abraço terno,
Como só tu sabes brindar, como só tu sabes desejar.
Aprendo contigo a amar devagar como o pôr-do-sol,
No horizonte de mar anilado. Sinto-me pequeno, frágil.
Rebolas alegre no chão e eu rebolo contigo. Brincamos.
Gatinhas entre bonecos e bolas, tapetes e sapatos teus.
A alegria desse teu olhar, o doirado do teu cabelo fino
Fazem-se sentir vivo. Tu és agora o Sol dos meus dias.
E a Lua brilhante de Janeiro!
Roubo-te uma gargalhada,
Um beijo terno,
Um sorriso matreiro.
Estendes-me os braços
Pequenos e débeis
Qual herói salvador.
Recebo-te encantado
Como prenda desejada,
Breve momento singular.
Doze meses, um ano,
Já tantas semanas.
E um amor tão fino.
Recortado esse amor
em linhas que fui fiando,
Vive hoje e sempre.
Pobre escriba é este
Que não sabe traduzir
O que o coração manda.
Um dia lerás ou não
Estes pedaços de luz
Que será minha e tua.
Cerram-se com vigor os punhos.
Gritam-se alarvemente alegrias,
Sonham-se luminosos Junhos
Repletos de luz e energias.
Saiba eu quem somente acredite,
O que tantos outros desejam
Há quem ainda muito medite,
No que os crédulos ensejam.
Saiu um ano, entrou um ano,
todavia a dor ainda aqui fica
Sem sequer saber qual o dano
Nem o que aquele significa.
Foram dias, semanas, meses,
Abraços e carinhos proibidos
Foram tantas, tantas as vezes,
Que perdemos nossos sentidos.
Que possa finalmente eu dar
Aquele abraço sincero, quente
E em vez de um vazio, um mar
De mãos abertas a toda a gente!
A esperança mora aqui!