O telemóvel tocou. Acácio poisou a sua “Divina Comédia” que estava a ler em cima da mesa e olhando o monitor do aparelho logo percebeu a origem. Atendeu:
- Olá Luizinha, minha filha, como estás?
- Estou bem e o paizinho?
- Também, felizmente.
- Que estava a fazer?
- A ler…
- Boa…. Gosto de saber que tem com que se entreter…
- Olha lá… não me estejas a passar a mão pelo lombo que eu conheço-te de ginjeira. Diz lá o que queres…
- O pai é muito sabido… Mas pronto venho perguntar mais uma vez como vai ser o Natal?
- Como é que há-de ser? Eu fico aqui e tu vais à tua vida.
- O pai não me vai fazer essa desfeita?
- Desfeita? Porquê?
- Porque estamos no Natal, é o tempo da família e eu não o quero nestes dias sozinho.
Um silêncio que durou segundos.
- Então, não diz nada?
- Não tenho nada para te dizer. Ou melhor vou repetir o que te disse há dias e há pouco: quero ficar aqui.
Agora foi a vez da filha se calar para logo a seguir teimar:
- E o que é que eu digo aos seus netos? Estão fartos de perguntar quando vem o avô…
- Diz-lhes simplesmente que não vou porque não quero. Tenho esse direito, não?
- Mas explique-me porquê, se faz favor. Deve-me essa explicação.
- A tua mãe partiu há somente seis meses e não me sinto com coragem para ver gente. Prefiro o recato desta casa pobre, mas acolhedora.
- Pai, isso não é motivo. Por a mãe ter partido é que não deve ficar sem nós. Mais, se não quiser ficar comigo fica com o meu irmão… Eu não me importo.
O pai nada disse.
- Então paizinho?
Um suspiro longo atravessou a chamada e por fim o velho disse:
- Sabes Luísa, durante mais de setenta anos vivi o Natal conforme os outros queriam: primeiro foi na casa enorme da minha avó Juliana que queria sempre a família toda lá reunida, chegámos a ser 60 pessoas à mesa, estás a imaginar?
- Pai eu sei disso, mas eram outros tempos…
- Posso continuar?
Após um breve silêncio filial:
- Depois só com a minha mãe e os meus irmãos, tios, primos e sei lá mais quem. Portanto cresci sempre com multidão à minha volta. Mais tarde quando casei com a tua mãe em Janeiro logo nesse ano nasceu o teu irmão… E o Natal continuou a ser sempre com muita gente.
- O pai não gostava?
- Gostar, gostava… mas também queria ter uma vez um Natal sereno… Sem horas, tempos ou outra limitação qualquer e que, justamente, nunca tive. Agora que estou viúvo, só peço que me deixem gozar o Natal como sempre sonhei um dia…
Porque achei o conto anterior pobre... escrevi este Isabel!
Naquela manhã de Natal os mais velhos foram acordar bem cedo as crianças. Era normalmente assim!
- Feliz Natal meninos! Vamos ver as prendas?
Alguém coloca água na fervura:
- Não sei se houve prendas…
As crianças nem ligaram e rapidamente um alvoroço chegou às escadas com todos os miúdos a correram em busca da Árvore de Natal onde previamente a família deixara os sapatos de cada miúdo e de cada adulto.
Quando os infantes entraram na sala, toda ela revestida de prateleiras com velhos livros, pararam estupefactos tal era a imensidade de embrulhos de todas as cores, tamanhos e feitios.
Até a Clarisse, uma cadela perdigueira teve direito à sua prenda… Não havia sapato, houve almofada.
Por fim o Filipe que era dos mais novos procurou o seu sapato e num ápice se sentou no chão para abrir as prendas que lhe estavam destinadas. Foi o suficiente para as outras crianças o seguirem.
A excitação era tão grande que não cabia naquela sala.
- Uns patins, uns patins – declarava Rosinha – que lindos!
- Um “tinónim” Gabriel… - dizia o pai para o filho, como se desconhecesse a prenda.
- Brrrrrr… tinónim, tinónim – e o menino nem se preocupou com os restantes embrulhos.
Depois de muitos papéis rasgados e laços desfeitos foi a vez dos mais crescidos. Os petizes haviam partido para parte incerta dentro de casa, sem pequeno-almoço, mas encantados.
Até que alguém encontrou Jaime. Este era a criança mais velha de todos que estavam naquela Natal. Escondido atrás da Árvore de Natal, que teimava em piscar, Jaime segurava algumas prendas, mas mantinha-se com um ar triste como se o Natal fosse assim uma espécie de frete.
De súbito pairou um silêncio tenebroso na sala. Foi o mais velho de todos que erguendo-se da sua cadeira e segurando-se à bengala aproximou-se do neto e apontando com a ponta do apoio, perguntou:
- Que estás aí a fazer?
Jaime nada disse. Gostava do avô, mas naquele instante sentia-se mais um estranho que alguém da família.
Perante o silêncio do menino o avô pegou noutra cadeira e sentou-se perto do neto. Depois segurou-lhe na mão que envolvia algumas prendas, puxou-o para si abraçando-o.
A restante família olhava aquele quadro com receio, mas outrossim com ternura. O velho Augusto nunca fora de carinhos e deste modo aquele momento parecia assaz invulgar .
- Jaime… já percebi que não recebeste algo que desejavas. Posso apenas saber o que falta nas tuas prendas?
O menino saltitou com o olhar entre pai e mãe que não passou despercebido ao avô.
- Jaime olha para mim. Os teus pais ainda não mandam aqui. Diz-me o que te faltou, se fizeres favor…
A Ana em mais um desafio. Desta vez foi a Bii Yue a lançar-me o convite para continuar. Que poderão ver abaixo. Lanço agora o mesmo convite à Isabel para continuar após a minha parte.
NOTA: os humanos falam em itálico, os gigantes em negrito e o Mestre fala em sublinhado.
entro no supermercado e vou directa ao frasco de desinfectante de mãos. de repente um estrondo: TUM! e o frasco abana no seu pedestal.. TUM.. TUM..TUM.. parece que um gigante se aproxima. só se ouvem gritos e gente a correr em todas as direcções. enquanto um vozeirão diz: tenham calma, ainda os piso. com toda a naturalidade saio do supermercado, com a mão na anca e questiono: quem és tu agora? com uma enorme gargalhada faz toda a gente desmaiar. porque é que não me lembrei disto antes! assim não piso ninguém. mais uma gargalhada. cruzo os braços e digo: és o gigante Feliz, está visto. diz-me o que se passa.o Mestre quer falar contigo. levanto vôo e pouso-lhe no ombro. vê se caminhas devagar, estás a estragar o asfalto todo. ele sopra o pó azul turquesa, abre o vórtice da felicidade e saímos da terceira dimensão em direcção ao mundo da magia.
Mestre, mestre! Estava no supermercado e depois apareceu o Feliz e depois... Com serenidade e calma continua a beber o seu chá. Eu sei, tiveste um glance das diversas realidades a convergirem numa só. Aponta para o canto amontoado de livros. Resignada vou sentar-me e retomo o estudo de ontem. Os Pandas gigantes são mesmo reais! Estamos quase a fazer um século que criámos as proteções na terra e tanto ficou por explorar.Acaba a tua lição e afazeres, descansa o resto do dia e amanhã logo descobrirás uma nova verdade. Chá bebido, começa a preparar tudo para o ritual que vai mudar a história da humanidade até então.
EIS A MINHA CONTINUAÇÃO
Aurindo acordou estremunhado. Parecia que o chamavam. Levantou-se da cama e espreitou pela janela. Nevava!
Sorriu um pouco e exclamou para si mesmo:
- A neve é a rainha da beleza da natureza.
Depois voltou para a cama. Todavia ainda não havia cerrado os olhos e já escutava o seu nome, uma vez mais!
- Mas estão a chamar-me… Quem será?
Ergueu-se da cama e sentou-se à beira tentando perceber donde vinha o chamamento.
- Aurindo, Auriiiiiiindo…
- Ai, ai, ai, ai que estou a ficar doido. Agora oiço vozes dentro da minha cabeça… Como pode ser?
De súbito a janela abriu-se com estrondo e violência deixando que a neve e o vento entrassem livremente. Assustado Aurindo levantou-se repentinamente da sua cama para fechar a vidraça quando olhou para o horizonte. Em primeiro plano podia perceber as luzes da cidade onde vivia semi adormecida, mais distante as copas de umas árvores que pareciam ranger ao peso de tanta neve. Todavia o mais estranho era aquela imagem que o céu lhe apresentava: de um enorme buraco feito no negro das nuvens surgia uma luz forte.
Era uma daquelas tardes frias de Outono e uma brisa cortante enregelava os corpos. Desceu a rua devagar encolhido num casaco quente. A neta estaria prestes a sair da escola e era tempo de a trazer para casa.
Com sete anos a menina era vivaça, esperta e tinha todos os dias uma pergunta engatilhada para fazer ao avô. Sorria só de imaginar que questão iria ser aberta naquela tarde.
Junto à porta da escola pais e outros avós aguardavam pacientemente que as crianças saíssem. Uma algazarra infantil despertou-os e já na rua cada um pegou na sua criança.
- Olá avô!
- Olá minha senhora…
Era sempre assim que o antecessor tratava a neta, que a menina adorava. Sentia-se grande, crescida… quase adulta. Iniciaram a subir a rua até a casa quando a menina avançou:
- Sabes avô… a professora hoje disse que o Natal é quando a gente quiser. É verdade?
Estava lançado o mote para aquela tarde… O velho sorriu e respondeu:
- Um grande poeta português escreveu isso, sim!
- Poeta? O que é um poeta, avô?
A coisa parecia complicar-se agora. Finalmente respondeu:
- Um poeta é alguém que escreve com a alma…
Seria suficiente ou seria que vinha nova questão?
- Ah! – devolveu a menina. Para logo acrescentar:
- Mas se o Natal pode ser quando quisermos…
O avô percebeu o alcance da frase e por isso tentou explicar.
- Querida… o Natal não deveria ser um momento determinado no ano, mas o ano inteiro. E que o poeta quis dizer é que o espírito de Natal deve viver sempre nos nossos corações.
- Espírito de Natal?
- Sim… deixa-me exemplificar… O que fizeste quando a tua colega Mónica se esqueceu do almoço em casa?
- Ó avô… tu sabes… dei-lhe metade do meu…
- Esse é o espírito de Natal…
- Ah…
- O que fizeste ao canito abandonado na rua?
- O Tremoço?
- Sim…
- Levei-o para casa.
- Esse é o espírito de Natal…
- Ah…
- Saber dar, saber receber, estar disponível para quem necessita de nós esse é o verdadeiro espírito de Natal.
A menina manteve-se em silêncio como estivesse a digerir os últimos exemplos.
Entretanto o avô acrescentou:
- Queres escutar uma história sobre o Natal?
- Claro avô… tu sabes sempre contar uma boa história.
- Então lá vai: há muitos, muitos anos não havia Pai Natal e somente a figura do Menino Jesus. Naquele tempo cabia ao Menino entregar as prendas que geralmente desciam num cesto por uma chaminé. Não havia árvores de Natal, mas fazia-se sempre um enorme presépio. Na noite de consoada, chegada a meia-noite as crianças aproximaram-se da chaminé e ainda viram o cesto descer.
A excitação era enorme, mas um menino olhou para o cesto e viu algo que detestava: uma colher de pau. Que não era mais que o símbolo da disciplina que lhe era muitas vezes imposta. Perante aquela horrível visão o rapazito fugiu daquele lugar e recusou-se a lá entrar. Não queria admitir que o tal de Menino Jesus lhe trouxera aquele símbolo.
Foi a mãe que tentou apaziguar o coração do rapaz, dizendo que não havia colher nenhuma, que fora só imaginação infantil. O miúdo não acreditava na mãe porque soubera o que tinha visto. Mas a partir desse noite o menino, depois jovem e mais tarde crescido, deixou de acreditar no Natal.
Anos mais tarde, já homem casado e com 2 rapazes, recebeu um pedido do filho mais novo. Este desejava ver, nesse ano, o Pai Natal. Não querendo decepcionar o petiz, o pai comprou uma fatiota que trazia uma barba e na noite de Natal vestiu-a, colocou uma almofada na barriga para o tornar mais gordo e prestou-se ao pequeno teatro para alegrar o filho.
De costas lá foi colocando as prendas, comeu as bolachas e até simulou uma breve tosse. O filho viu-o e até referiu que estava constipado. A alegria daquela criança ao ver um suposto Pai Natal era transbordante.
A partir dessa consoada aquele pai percebeu, finalmente, que o Espírito de Natal não era feito só de prendas, laços e embrulhos, mas sim de partilhar amor, alegria e felicidade.
O avô calou-se por fim e a menina olhou-o.
- Ó avô… tu estás a chorar?
Apanhado, só respondeu:
- Estou… são as lágrimas boas do espírito de Natal! E enxugou-as com as costas das mãos!