O Pastor #15
Havia semanas que o jovem guardador de ovelhas e cabras andava afastado de casa. Era costuma sair uns dias, mas tanto tempo não parecia vulgar. A mãe temia que algo lhe tivesse acontecido e procurava convencer o marido a ir procura-lo. Acabou por ser um irmão do pastor que assumiu a seu cargo procurar o mano varão. Desta espécie de vontade juvenil resultou que saíram dois homens de casa, pai e filho, em busca do pastor mais velho.
Não se cruzando com ninguém pelos caminhos e veredas e ao fim de muitas horas de caminhada, decidiu o pai passar pela Quinta da Figueira. Podia ser que alguém o tivesse visto.
Logo no início da quinta perceberam ao longe que um cão apascentava um rebanho. Era Sapatos.
Este vendo os donos correu para eles, tanto quanto as velhas pernas o deixavam. Após as respectivas festas e latidos, os homens calcularam que o rapaz andaria por aquelas paragens. O que parecia muito estranho, tendo em conta o conhecimento que eles tinham da forma sempre azeda como o jovem pastor falava daquela família, nomeadamente da bela jovem. Porém os contornos da vida acarretam bizarros mistérios.
Aproximaram-se do velho solar. Os cães guardadores iniciaram a ladrar perante a presença de estranhos. Assumou à varanha então um vulto feminino e esguio que perguntou:
- Quem está aí?
E vendo os dois homens, continuou:
- Ah és tu! E esse deve ser o teu filho mais novo…
- É sim dona!
- Não me digas que vens em busca do teu varrão?
- Venho mesmo… Sabe onde estará ele? É que não o vi junto do gado… Não é costume!
A senhora desceu as escadas devagar e chegando bem perto do homem mais velho e antigo colaborador, devolveu:
- O teu filho foi à cidade…
Espantado quase gaguejou:
- Ci… cidade? O que foi lá fazer, posso saber?
- O teu filho vai ser um grande escritor… afianço-te…
- Escritor? O que é isso?
- Alguém que conta estórias de vida… como a dele. De uma forma simples!