Desafio de escrita dos pássaros #2.13
Mote: E elas saltaram e saltaram, sem nunca mais parar
Já haviam decorrido alguns anos desde que o Mundo conhecera uma nova forma de estar. Entretanto nascera uma menina no seio da família que adoptara o florentino, e a quem deram o nome de Maria da Luz.
A criança foi crescendo feliz rodeada de um amor profundo dos pais e de um avô que, curiosamente, nunca fora pai.
Elizário, desde que Maria começara a andar, levava a cachopa a passear vezes sem conta e brindava-a no caminho com muitas histórias que a sua cabeça inventava. Especialmente com origem na sua ilha…
Falava-lhe do mar azul, muitas vezes bravio e inóspito, outras manso e doce que nem mel. De um azul que se perdia no horizonte até tocar o anil do céu.
Relatava-lhe histórias de um pôr de um sol morno e de cores alaranjadas.
Contava-lhe fantasias das cascatas de água pura e fria que nasciam do ventre da terra e desapareciam no mar.
Depois era o momento de recordar a família, provavelmente toda desaparecida. Do pai, homem duro e corajoso ao enfrentar o malagueiro de um oceano revolto, em busca de peixe. De uma mãe sofrida a quem cabia cuidar de uma ranchada de filhos. Mas Elizário falava sempre deles com uma doçura que jamais recebera dos progenitores.
A menina ouvia, ria e quase chorava, mas adorava aquelas estórias contadas por um avô calmo e sereno. Relatos que foram alimentando o seu imaginário infantil.
Depois as canções…
Certo dia a mãe de Maria da Luz encostou-se à ombreira da porta da biblioteca, enquanto via Elizário com a menina ao colo a trautear e a dançar uma qualquer música popular. Maria da Luz gargalhava feliz naquele seu rodopiar estonteante e louco.
No entanto a menina do que mais gostava de ouvir eram as histórias com animais que o avô adoptivo relatava do tempo em que trabalhara para um tal de Joaquim…
Falava dos burros que lhe vinham comer da mão as favas secas, das vacas a quem dava de comer com fardos de feno seco e que espalhava pelas manjedouras, das ovelhas e das cabras que ordenhava com saber e mestria e, acima de tudo, das cabritas e das borregas que invadiam os prados saloios numa alegria estonteante.
Certo dia quando estava para terminar mais um episódio de cabritas, Maria da Luz colocando a ínfima mão na boca do avô, concluiu:
- E elas saltaram e saltaram, sem nunca mais parar!