Desafio de escrita dos pássaros #16
Após alguns pequenos avanços e muitos recuos na vida, Malquíades conseguira finalmente assentar num trabalho onde, estranhamente, se sentia bem.
A sua primeira opção de emprego como jornalista não havia corrido de forma iluminada. Diversos conflitos com colegas e maioritariamente com o chefe da redacção, fizeram com que abandonasse o jornal mais cedo do que gostaria.
Saltitou de emprego em emprego (chegou mesmo a concorrer a Pai Natal!!!), até parar naquela agência onde a sua única função seria… escrever. Ao que constava figuras mais ou menos públicas tinham blogues, mas eram os outros que escreviam os supostos textos. Para Malquíades a situação era confortável desde que lhe pagassem. E pagavam… principescamente.
O pior mesmo ocorreu quando lhe encomendaram um texto sobre um tema quase filosófico. O tipo que solicitara o trabalho à agência era um pequeníssimo “bloguer” de nome bizarro e que se confundia com uma bebida. O tema versaria: “Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer”.
- Que raio de tema escolheu este tipo… - pensou o escritor a soldo.
Perguntou quantos dias teria para escrever…
- Mais ou menos 15 dias, mas convém que escrevas quanto mais cedo melhor, porque recebe-se mais algum… – confidenciou o chefe.
Sentado à secretária na sua casa e enquanto afagava docemente o Aissú, o jornalista ficou muito tempo a matutar. De súbito, como era seu apanágio, virou-se para o portátil e começou furiosamente a escrever. Ao cabo de uns bons minutos parou, releu o que redigira sobre o tema encomendado e um sorriso meio traquina aflorou ao rosto.
Tocaram à campainha da rua.
- Quem será a esta hora? – perguntou, visivelmente desagradado.
Malquíades abriu a porta para surgir na sua frente… Beatriz. Linda como sempre.
- Bia? Mas… mas… Não estavas em Barcelona numa exposição?
- Estava sim – pondo-se em bicos dos pés espetou um ósculo no namorado.
Depois entrou e sentando-se no sofá, chamou-o:
- Anda, senta-te aqui ao pé de mim que tenho uma coisa para te dizer.
- Mau… que se passa?
- Estás preparado para me ouvires?
Nunca estava, mas mentiu:
- Sim… sim… estou…
- Estou grávida… Vais ser pai… - confessou com um sorriso luminoso.
Malquíades sentiu-se gelar. Um rol de emoções no coração… Pai? Iria ser pai? Mas ser pai era coisa de…
Olhou para o portátil e percebeu que tinha muita coisa para alterar no texto acabado de escrever.