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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #16

Após alguns pequenos avanços e muitos recuos na vida, Malquíades conseguira finalmente assentar num trabalho onde, estranhamente, se sentia bem.

A sua primeira opção de emprego como jornalista não havia corrido de forma iluminada. Diversos conflitos com colegas e maioritariamente com o chefe da redacção, fizeram com que abandonasse o jornal mais cedo do que gostaria.

Saltitou de emprego em emprego (chegou mesmo a concorrer a Pai Natal!!!), até parar naquela agência onde a sua única função seria… escrever. Ao que constava figuras mais ou menos públicas tinham blogues, mas eram os outros que escreviam os supostos textos. Para Malquíades a situação era confortável desde que lhe pagassem. E pagavam… principescamente.

O pior mesmo ocorreu quando lhe encomendaram um texto sobre um tema quase filosófico. O tipo que solicitara o trabalho à agência era um pequeníssimo “bloguer” de nome bizarro e que se confundia com uma bebida. O tema versaria: “Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer”.

- Que raio de tema escolheu este tipo… - pensou o escritor a soldo.

Perguntou quantos dias teria para escrever…

- Mais ou menos 15 dias, mas convém que escrevas quanto mais cedo melhor, porque recebe-se mais algum… – confidenciou o chefe.

Sentado à secretária na sua casa e enquanto afagava docemente o Aissú, o jornalista ficou muito tempo a matutar. De súbito, como era seu apanágio, virou-se para o portátil e começou furiosamente a escrever. Ao cabo de uns bons minutos parou, releu o que redigira sobre o tema encomendado e um sorriso meio traquina aflorou ao rosto.

Tocaram à campainha da rua.

- Quem será a esta hora? – perguntou, visivelmente desagradado.

Malquíades abriu a porta para surgir na sua frente… Beatriz. Linda como sempre.

- Bia? Mas… mas… Não estavas em Barcelona numa exposição?

- Estava sim – pondo-se em bicos dos pés espetou um ósculo no namorado.

Depois entrou e sentando-se no sofá, chamou-o:

- Anda, senta-te aqui ao pé de mim que tenho uma coisa para te dizer.

- Mau… que se passa?

- Estás preparado para me ouvires?

Nunca estava, mas mentiu:

- Sim… sim… estou…

- Estou grávida… Vais ser pai… - confessou com um sorriso luminoso.

Malquíades sentiu-se gelar. Um rol de emoções no coração… Pai? Iria ser pai? Mas ser pai era coisa de…

Olhou para o portátil e percebeu que tinha muita coisa para alterar no texto acabado de escrever.