Desafio de escrita dos pássaros #12
Mote: Aqueles pássaros não se calam
(Texto dedicado à Magda pelo seu aniversãrio!)
Enquanto Beatriz devorava as “Viagens” da Magda Pais confortavelmente recostada num sofá e tendo a seus pés um Aissú atento e amigo, Malquíades sentado à secretária ia desfiando textos para o jornal.
Os dedos fugiam céleres por entre as teclas do portátil. Parava, relia, revia, modificava e continuava. De vez em quando passava as mãos pelo cabelo, sinal que dúvidas lhe haviam assaltado o espirito. Depois, numa quase ferocidade, voltava a escrever.
Era uma daquelas brandas tardes primaveris, sem nuvens e onde o sol quente invadia o lar através de uma janela e da qual se podia ver o pomar de laranjeiras, qual “orangery” no Palácio de Schönbrunn, em Viena. Uma paisagem bucólica carregada de beleza, paz e serenidade. Tal como ambos adoravam.
Beatriz fechou o livro, ergueu-se do sofá devagar e quase em silêncio, aproximou-se do namorado, envolveu-o naquele costumado abraço quente, beijou os cabelos desalinhados e quase em surdina perguntou:
- Queres um chá?
- Sim.
Entretanto o canito abriu um olho, espetou uma orelha para perceber onde iria a amiga, mas depressa regressou à sua sesta quando deu conta que a menina se dirigia para a cozinha. Se fosse a rua… Talvez mais tarde!
Duas chávenas fumegantes deram à sala um ar perfumado. Beatriz poisou uma ao lado de Malquíades e levou a outra consigo. Recuperou o livro e foi beberricando a infusão enquanto lia.
A tarde adormecia já no horizonte trazendo cores mescladas e dando à véspera um sabor morno. Beatriz saiu do seu lugar carregando o livro, aproximou-se da janela e encostada a esta foi recebendo o sol em cheio, continuando a ler.
Todavia, faltava ao momento uma musicalidade exterior que as janelas fechadas não permitiam. Portanto abriu uma para deixar que o ar da tarde penetrasse na sala tépida.
Da fora veio então um som característico de fim de dia… Um vento manso sibilava por entre a folhagem nova e viçosa enquanto bandos de pardais, pintassilgos, piscos, melros concorriam entre todos pela conquista do melhor poleiro para a noite que se avizinhava.
Disse Beatriz:
- Tenho pena que os quadros que pinto não possam ter som... ficava tão bem este aqui…
Malquíades encolheu os ombros num gesto de paciência e continuou a escrever. Por fim levantou-se, encostou-se à namorada observando a paisagem e exclamou:
- Definitivamente aqueles pássaros não se calam…
- Estes aqui? – perguntou admirada com o desabafo.
- Não miúda… os outros!