Desafio de escrita dos pássaros #9
Mote: Acordaste nu, sem te recordar de nada, numa ilha deserta
Tinha os olhos fechados, mas percebeu que estava ao ar livre. Deveria ser do Sol a bater-lhe no corpo com força ou da água tépida que lhe beijava os pés.
As mãos estendidas qual Cristo cruxificado davam à situação uma bizarra anormalidade. Sentiu com a mão esquerda uma areia fina. O mesmo com a direita.
Por fim abriu um olho e deparou com um Sol inclemente e um céu anilado e sem nuvens. Abriu o outro olho, mexeu-se e percebeu estranhamente… que estava nu!
Ergueu-se e tentou perceber onde se encontrava. À sua frente uma praia calma fazia aterrar à beira-mar pequenas ondas. De um lado e do outro percebeu árvores…
Porém para Malquíades nada daquilo fazia sentido… Beliscou-se temendo que fosse novamente um sonho, mas depressa percebeu que não era.
Fechou os olhos e tentou rebobinar a sua mente até onde se recordava antes de acordar naquele ermo: assistira a um concerto com a Beatriz, depois fora a casa dela buscar o portátil e regressara a sua casa.
Finalmente um enorme vazio… até acordar ali sem roupa, sem ninguém ao seu redor e com uma vontade enorme em sair dali…
A maré subira e Malquíades recuou uns bons metros na praia. Pairava no ar uma leve brisa, amenizando o calor do astro-rei.
Ali não valeria a pena gritar porque provavelmente ninguém o escutaria. O enigma adensava-se, ainda por cima naquela altura em que tinha tanta coisa para escrever…
De súbito ocorreu-lhe uma ideia… Poderia ser parva, mas parecia ser a única com alguma lógica.
Ergueu-se da areia, olhou o céu do lado contrário do sol e perguntou como se alguém o escutasse:
- Tu que teclas nesse portátil diz lá quem é que me colocou aqui?
Um silêncio…
- Sim tu… o autor destas linhas… quem te mandou criar esta ideia?
Respondi:
- É comigo?
- Claro!
- Que me queres?
- Diz-me lá de quem foi a ideia de me colocarem aqui nesta ilha?
Com alguma relutância, respondi:
- Foi de um conjunto de pessoas.
- Essa gente não deve ter mais nada em que pensar do que estragar a vida.
- Estragar?
- Tu achas correcto que me tenham atirado, assim sem mais nem menos, para este ermo?
- É um desafio…
- E tu, claro, aceitaste…
- Claro… dá gozo e obriga-me a puxar pela cabeça.
- Bando de tolos! – concluiu!
Emendei:
- Bando de pássaros!