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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #9

Mote: Acordaste nu, sem te recordar de nada, numa ilha deserta 

Tinha os olhos fechados, mas percebeu que estava ao ar livre. Deveria ser do Sol a bater-lhe no corpo com força ou da água tépida que lhe beijava os pés.

As mãos estendidas qual Cristo cruxificado davam à situação uma bizarra anormalidade. Sentiu com a mão esquerda uma areia fina. O mesmo com a direita.

Por fim abriu um olho e deparou com um Sol inclemente e um céu anilado e sem nuvens. Abriu o outro olho, mexeu-se e percebeu estranhamente… que estava nu!

Ergueu-se e tentou perceber onde se encontrava. À sua frente uma praia calma fazia aterrar à beira-mar pequenas ondas. De um lado e do outro percebeu árvores…

Porém para Malquíades nada daquilo fazia sentido… Beliscou-se temendo que fosse novamente um sonho, mas depressa percebeu que não era.

Fechou os olhos e tentou rebobinar a sua mente até onde se recordava antes de acordar naquele ermo: assistira a um concerto com a Beatriz, depois fora a casa dela buscar o portátil e regressara a sua casa.

Finalmente um enorme vazio… até acordar ali sem roupa, sem ninguém ao seu redor e com uma vontade enorme em sair dali…

A maré subira e Malquíades recuou uns bons metros na praia. Pairava no ar uma leve brisa, amenizando o calor do astro-rei.

Ali não valeria a pena gritar porque provavelmente ninguém o escutaria. O enigma adensava-se, ainda por cima naquela altura em que tinha tanta coisa para escrever…

De súbito ocorreu-lhe uma ideia… Poderia ser parva, mas parecia ser a única com alguma lógica.

Ergueu-se da areia, olhou o céu do lado contrário do sol e perguntou como se alguém o escutasse:

- Tu que teclas nesse portátil diz lá quem é que me colocou aqui?

Um silêncio…

- Sim tu… o autor destas linhas… quem te mandou criar esta ideia?

Respondi:

- É comigo?

- Claro!

- Que me queres?

- Diz-me lá de quem foi a ideia de me colocarem aqui nesta ilha?

Com alguma relutância, respondi:

- Foi de um conjunto de pessoas.

- Essa gente não deve ter mais nada em que pensar do que estragar a vida.

- Estragar?

- Tu achas correcto que me tenham atirado, assim sem mais nem menos, para este ermo?

- É um desafio…

- E tu, claro, aceitaste…

- Claro… dá gozo e obriga-me a puxar pela cabeça.

- Bando de tolos! – concluiu!

Emendei:

- Bando de pássaros!