Desafio de escrita dos pássaros #2
Mote: amor e um estalo.
Embrulhado na vergonha da sua consciência Malquíades aguardava sentado numa velha cadeira que o Director da escola o chamasse ao gabinete.
A gorda e anafada Umbelina fora buscá-lo de propósito à sala, naquele seu passo lento e pastoso, deixando nos outros alunos da aula uma estranha sensação de desconforto.
Enquanto percorria os corredores sentia que nada valera a pena. Aquele estalo pregado no Nelson por amor platónico à Vanessa, uma menina bonita, mas parva e que não lhe ligava patavina, só lhe trouxera dissabores. E os piores, provavelmente, ainda estariam para chegar.
A sala pequena era uma espécie de antecâmara para um eventual degredo. Temia profundamente o futuro. As mãos entrelaçadas, os olhos irrequietos a percorrerem o espaço alvo e vazio, o coração tão minúsculo que queria mirrar no peito.
A porta do gabinete abriu-se finalmente saindo de lá o adversário com cara de poucos amigos. O Director ordenou que Nelson se sentasse e olhando para Malquíades fez sinal com a cabeça para entrar.
Devagar o menino ergueu-se e passou na frente do antagonista e do velho professor entrando na sala. Esta era enorme terminando ao fundo numa secretária repleta de papéis, um velho telefone e um candeeiro, donde saía uma luz mortiça. Na frente uma cadeira onde foi convidado a sentar-se.
O Director cruzou os braços em cima do tampo da secretária, puxou os óculos para a frente e de olhar fixo no aluno por cima dos aros, atirou:
- Que me tens a dizer?
Malquíades tremia. A sua voz presa, o coração novamente aos pulos. Só soube gaguejar:
- Des… desculpe! N... não foi por mal…
- Não é a mim que tens de pedir desculpa… como deves calcular!
O silêncio invadiu a sala. O aluno mordia o lábio superior enquanto o Director aguardava… algo mais.
Mas o aluno gostava pouco de falar… E o professor sabia-o. Por isso e percebendo que dali não sairia mais nada, sentenciou:
- Vais ao Nelson, que está ali fora, pedir desculpa…
Acenou com a cabeça num consentimento enquanto fixava o olhar num taco de madeira podre.
O professor levantou-se então e encaminhou-se para a porta. Aguardou que Malquíades chegasse perto dele. Na sala era a vez de Nelson parecer nervoso.
- Então… - avançou o professor.
O agressor aproximou-se de Nelson e quase em surdina declarou:
- Para a próxima levas um murro na boca para não vires aqui “chibar”!