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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Desafio de escrita dos pássaros #2

Mote: amor e um estalo.

Embrulhado na vergonha da sua consciência Malquíades aguardava sentado numa velha cadeira que o Director da escola o chamasse ao gabinete.

A gorda e anafada Umbelina fora buscá-lo de propósito à sala, naquele seu passo lento e pastoso, deixando nos outros alunos da aula uma estranha sensação de desconforto.

Enquanto percorria os corredores sentia que nada valera a pena. Aquele estalo pregado no Nelson por amor platónico à Vanessa, uma menina bonita, mas parva e que não lhe ligava patavina, só lhe trouxera dissabores. E os piores, provavelmente, ainda estariam para chegar.

A sala pequena era uma espécie de antecâmara para um eventual degredo. Temia profundamente o futuro. As mãos entrelaçadas, os olhos irrequietos a percorrerem o espaço alvo e vazio, o coração tão minúsculo que queria mirrar no peito.

A porta do gabinete abriu-se finalmente saindo de lá o adversário com cara de poucos amigos. O Director ordenou que Nelson se sentasse e olhando para Malquíades fez sinal com a cabeça para entrar.

Devagar o menino ergueu-se e passou na frente do antagonista e do velho professor entrando na sala. Esta era enorme terminando ao fundo numa secretária repleta de papéis, um velho telefone e um candeeiro, donde saía uma luz mortiça. Na frente uma cadeira onde foi convidado a sentar-se.

O Director cruzou os braços em cima do tampo da secretária, puxou os óculos para a frente e de olhar fixo no aluno por cima dos aros, atirou:

- Que me tens a dizer?

Malquíades tremia. A sua voz presa, o coração novamente aos pulos. Só soube gaguejar:

- Des… desculpe! N... não foi por mal…

- Não é a mim que tens de pedir desculpa… como deves calcular!

O silêncio invadiu a sala. O aluno mordia o lábio superior enquanto o Director aguardava… algo mais.

Mas o aluno gostava pouco de falar… E o professor sabia-o. Por isso e percebendo que dali não sairia mais nada, sentenciou:

- Vais ao Nelson, que está ali fora, pedir desculpa…

Acenou com a cabeça num consentimento enquanto fixava o olhar num taco de madeira podre.

O professor levantou-se então e encaminhou-se para a porta. Aguardou que Malquíades chegasse perto dele. Na sala era a vez de Nelson parecer nervoso.

- Então… - avançou o professor.

O agressor aproximou-se de Nelson e quase em surdina declarou:

- Para a próxima levas um murro na boca para não vires aqui “chibar”!