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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos tontos - 34

Sentado na pequena sala vazia Edgar agarrou-se à bengala com ambas as mãos e em cima destas poisou a testa.

Por fim deixou que as lágrimas caíssem na carpete surrada e descolorida. Em silêncio.

À sua frente no caixão negro repousava o seu grande e único amor. Setenta anos de vida em comum. Cinco filhos, doze netos e muitos bisnetos, perdera-lhe o conto, e uma vida cheia de tanta… vida.

Mas naquele instante estava só. Sabia que em breve seria ele… do outro lado. E quando fosse tinha consciência que não teria ninguém a chorar por ele.

Sempre considerara os filhos como outras faces de si mesmo. Fossem as raparigas ou os rapazes. Ajudara-os sempre que lhe era solicitado. E amara-os muito.

Assim como Eugénia, a defunta, que abdicara de uma carreira como professora em prol dos gaiatos.

Todavia a solidão familiar invadira-lhes a vida a partir do momento que optaram por viverem num lar, tendo vendido todas as parcas coisas que tinham. Não deixariam nada a filhos e netos. Nem bens nem preocupações de nenhuma espécie.

Mas seria o mínimo, os filhos virem despedir-se da mãe.

Ergueu a cabeça e olhou um dos círios que iluminavam baçamente a sala. Naquela flamejar constante mas incerto Edgar sentiu que a sua vida fora um pouco como aquela vela.

A início pujante e forte, para no final se resumir a um coto e a uma luz mortiça que morria devagar

Tal e qual ele.