Conto tontos - 30
Esmeraldo entrou na taberna suja e escura do Carlos e sentou-se no local mais negro.
Pelo caminho foi cumprimentando os presentes e dando algumas respostas:
- B’tarde pessoal!
- B’tarde Aldo – respondeu o compadre Joaquim enquanto batia com uma carta na mesa de pedra ganhando a vaza.
- Isso vai? – questionou o Adolfo, mais conhecido pelo Viramilho.
- Que remédio. Tem de ir – respondeu o recém-chegado.
Depois.
- Um traçadinho ó Carlitos!
- Branco ou tinto?
- Branquinho, que não gosto nada de sujar o estômago.
Veio o vinho para a mesa e Esmeraldo beberricou um dedal e encostou a cabeça à mão. A sala pequena, mal iluminada e a tresandar a vinho era agora palco de uma pequena zaragata assente em palavras por causa das cartas.
- Porque não vens ao trunfo, caneco? – questionava um enfurecido
- Porque estou seco, porra...– respondia o parceiro.
Entretanto um deles olha para Esmeraldo vê a tristeza estampada no rosto e pergunta-lhe:
- Ei homem, que se passa contigo?
O outro não ligou. Voava com os pensamentos, quiçá.
Aproximaram-se dele e finalmente acordou do marasmo:
- Então homem… que me contas?
- Nada… - desabafou.
- Nunca te vi assim… conta lá o que tens…
- Não há nada para contar…
Os outros largaram as cartas e arrastaram as cadeiras para perto de Esmeraldo. Apertaram com o homem.
- Desculpa lá, mas não pode ser. O que se passa, amigo?
Esmeraldo pegou no copo e bebeu o resto de um trago e fez o gesto para se levantar. Todavia os amigos não deixaram. Até que Ludovino se lembrou de algo.
- Olha lá a tua Dores já teve a criança. Era por estes dias não era?
O outro levantou o olhar para o inquiridor e respondeu:
- Já teve já! Foi esta manhã.
- E estás triste por isso?
- Mais ou menos…
- Já são quantos Esmeraldo? - perguntou Raul.
- Cinco… - e proferiu o número de uma forma amorfa.
- Ena cinco. Grande fábrica… Tão novo e já cinco crianças.
- Má fábrica – desabafou então.
- Olha… má porquê? - avançou Viramilho.
- O homem está tonto – disse Ludovino.
- Pois é… só faço loiça rachada.
Os outros olharam entre si até que Joaquim afirmou:
- Já percebi… outra rapariga, não é? E querias um rapaz?
Esmeraldo abanou a cabeça em confirmação e enterrou a cabeça nas mãos. Os outros voltaram então para a mesa e recomeçaram a jogar.