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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos Tontos - 28

Sentada no velho cadeirão, percorria as paredes repletas de quadros e relógios tentando esconder o olhar nalgum objecto ou lembrança.

A sua relação com ele nunca fora assim algo de fantástico. E nos últimos tempos dir-se-ia que era deveras truculenta sem felicidade nem alegria. Restavam, todavia, algumas memórias. Poucas…

A nova surgira no telemóvel de forma fria, mesmo telegráfica. Nem reconhecera o número. Tentara devolver a mensagem com uma chamada mas ninguém atendera.

Sempre tivera a mania de ter solução para tudo. Olvidara, no entanto, qualquer coisa. Ergueu-se e percorreu a casa sem destino incapaz de conseguir lidar com a situação tentando não chorar.

O velho relógio na cozinha bateu duas vezes e ela deu então conta que os filhos estariam a chegar da escola.

Ela que nunca tivera fé, que jamais acreditara em qualquer divindade que fosse, percebia agora a falta que lhe fazia uma crença. A mãe bem que tentara que a filha seguisse outro caminho, mas ela sempre considerara a relação com um Deus uma profunda parvoíce.

Acordou do marasmo com o toque de campainha. Os filhos!

Abriu-lhes a porta recebeu os casacos encharcados e comunicou:

- Meninos, parem se fizerem favor. Sentem-se na sala que tenho de vos contar uma coisa.

Adveio-lhe um aperto na garganta. Por fim disse:

- Tenho uma notícia triste para vos dar.

Um silêncio cresceu, todavia as crianças aguardavam.

- O Papá… o vosso papá… - as lágrimas começaram a cair – já não está entre nós…

- Porquê – perguntou o mais novo sem entender.

- Porque o papá… morreu num acidente.

As lágrimas continuaram a cair ininterruptamente. Então o mais velho levantou-se pegou na mão da mãe e disse:

- Não te preocupes mamã… O papá está agora no Céu.

Ela ergueu os olhos inchados para o infante e perguntou:

- Quem te disse?

- A avó diz que todas as pessoas boas vão para o Céu. E o papá era bom não era?