Contos Tontos - 28
Sentada no velho cadeirão, percorria as paredes repletas de quadros e relógios tentando esconder o olhar nalgum objecto ou lembrança.
A sua relação com ele nunca fora assim algo de fantástico. E nos últimos tempos dir-se-ia que era deveras truculenta sem felicidade nem alegria. Restavam, todavia, algumas memórias. Poucas…
A nova surgira no telemóvel de forma fria, mesmo telegráfica. Nem reconhecera o número. Tentara devolver a mensagem com uma chamada mas ninguém atendera.
Sempre tivera a mania de ter solução para tudo. Olvidara, no entanto, qualquer coisa. Ergueu-se e percorreu a casa sem destino incapaz de conseguir lidar com a situação tentando não chorar.
O velho relógio na cozinha bateu duas vezes e ela deu então conta que os filhos estariam a chegar da escola.
Ela que nunca tivera fé, que jamais acreditara em qualquer divindade que fosse, percebia agora a falta que lhe fazia uma crença. A mãe bem que tentara que a filha seguisse outro caminho, mas ela sempre considerara a relação com um Deus uma profunda parvoíce.
Acordou do marasmo com o toque de campainha. Os filhos!
Abriu-lhes a porta recebeu os casacos encharcados e comunicou:
- Meninos, parem se fizerem favor. Sentem-se na sala que tenho de vos contar uma coisa.
Adveio-lhe um aperto na garganta. Por fim disse:
- Tenho uma notícia triste para vos dar.
Um silêncio cresceu, todavia as crianças aguardavam.
- O Papá… o vosso papá… - as lágrimas começaram a cair – já não está entre nós…
- Porquê – perguntou o mais novo sem entender.
- Porque o papá… morreu num acidente.
As lágrimas continuaram a cair ininterruptamente. Então o mais velho levantou-se pegou na mão da mãe e disse:
- Não te preocupes mamã… O papá está agora no Céu.
Ela ergueu os olhos inchados para o infante e perguntou:
- Quem te disse?
- A avó diz que todas as pessoas boas vão para o Céu. E o papá era bom não era?