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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos Tontos -17

Sentada na areia morna que o sol aquecera, de vez em quando erguia o olhar do livro e lançava-o pelo mar até ao horizonte. Depois serenamente regressava à leitura.

A seu lado os seus pertences. Entre eles a toalha ainda dobrada que aquecia ao asto-rei.

Em seu redor uma quantidade de gente diferente gozava daqueles momentos de veraneio. Uns gritavam, outros riam, mas nenhum curiosamente incomodava a sua leitura. Nem mesmo a movimentação de gentes, que entravam e saiam calmamente da praia.

Optara por um lugar perto da duna, de forma a não ser demasiadamente incomodada com o vento que soprava áspero.

O sol descia já numa tentativa de se afundar no horizonte devolvendo aquelas cores alaranjadas tão características de fim de tarde.

Quando levantou uma vez mais os olhos para o seu horizonte atravessou alguém que se sentara a uns metros, não muitos, de si.

De costas o homem parecia bem constituído e apresentava-se com um tom razoável de bronzeado. A praia é dos poucos lugares onde se pode olhar para perto como se estivessse a olhar ao longe. E vice-versa!

De súbito o homem ergueu-se, deu meia volta em busca de algo que não encontrou e ela pode então reparar que o seu vizinho tinha um aspecto musculado mas bem parecido, diria mesmo... esbelto. E prendeu naquele corpo macho o seu olhar...

Interiormente envergonhada pela sua atitude regressou à leitura, onde curiosamente nesse mesmo instante leu:

"O problema não é amar... mas saber quem amar!"

Contos Tontos -16

Ela fumava um cigarro enquanto ele parecia dormitar. Não gostava por aí além do cheiro do tabaco mas a rapariga não sabia resistir ao impulso.

Ela parecia olhar a noite através da janela aberta. Ele fixara o olhar no espelho do guarda fatos de reflectia parte da cama.

Finalmente ela falou:

- Estás zangado comigo?

Ele respondeu de forma quase em surdina:

- Não!

- Não ouvi…

- Não! – respondeu num tom mais alto.

- Então porque estás assim tão triste?

- Quem te disse que estou triste?

- Percebo eu nesse teu silêncio sepulcral.

Ele nada mais disse.

Ela apagou o cigarro e levantou-se da cama e foi à casa de banho.

Ouviu a água a correr e viu-a sair nua.

Ela aproximou-se dele e beijou-o. Sabia a desinfetante oral. Ele respondeu ao ósculo com a ternura que o momento obrigava.

Finalmente ela ergueu-se e passou a mão pelas madeixas do namorado. Deu a volta e voltou a enfiar-se na cama, cobrindo-se com o lençol. O rapaz  continuava na mesma posição em que ela o deixara. Por fim perguntou:

- Não queres dormir?

Ele virou-se para ela e devolveu simplesmente:

- Sim, vamos dormir!