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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos tontos - 15

Sentia nas mãos o poder todo. Naquele momento ele era o dono de si mesmo.

Sentia-se sempre assim quando viajava no seu potente veículo de duas rodas. Riu-se daquela permanente discussão de um seu amigo entre mota ou moto.

Acelerou e o ponteiro do velocímetro ultrapassou os três números. Continuou a puxar pelo veículo. O vento batia-lhe com força no peito e arrefecia-o.

Mas ele nem sentia o frio da tarde tal era a liberdade que se espraiava à sua frente no alcatrão cinzento. Ultrapassava veículos a uma velocidade estonteante.

Sentia a vibração do asfalto nas mãos mas continuava a acelerar. A estrada à sua frente tendia a estreitar-se quanto maior era a velocidade empreendida.

Num rasgo de lucidez percebeu que ia demasiado depressa e foi pausadamente desacelerando até a uma velocidade dentro dos limites.

Desviou-se para a direita deixando que os carros mais apressados o ultrapassassem. Quando deu por si conduzia tão devagar que pode finalmente endireitar-se.

O vento continuava a bater-lhe no peito mas com menos força.

Uma mão feminina tocou-lhe na perna e conseguiu ouvir a pergunta:

- Porque vais tão devagar?

Ele respondeu:

- Porque simplesmente quero chegar…