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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Poema simples III

És um poeta! Anunciou vaidoso

 

Porém numa chispa de lucidez
Devolvi em natural pensamento

Se seria a modéstia, talvez

Que via na graça um tormento.

 

Ninguém diz ao ferreiro que o é,

Ele sabe por detrás da bigorna.

Ninguém clama pelo cavador José,

Que fende a preceito a terra madorna.

 

Poeta não é rasgar as palavras...

É senti-las. Tactear o veludo da vida

Da epiderme das almas ilécebras,

E amar sem destino a dor perdida.

 

Poeta é chamar a nós a ternura,

Sonhar e crer que tudo é real.

Desfazer-se em torrentes de amargura,

Sofrer como se tudo fosse igual.

 

És um poeta, repetiu garboso.

 

Eu então sorri...

E respondi:

És um mentiroso

 

 

Poema simples II

No silêncio secreto da noite

o amor tem mais calor, renasce.

 

Nos passos denunciados dos amantes

o medo tem mais força, treme,

 

No desabrochar das flores

o aroma tem mais encanto, perde-se.

 

Finalmente quando se acorda,

o sonho prende-nos a esperança, vivemos.

Quase soneto

Quantas palavras escrevi sem sentido?

Que sonhos tive eu que se perderam?

As lágrimas salgadas de um vendido

São chamas lúgubres que se apagaram

 

Apetece-me roubar esta face ao mundo

Para que possa alimentá-la sozinho

Queria sim sentir toda a alma a fundo

A raiva, o desespero de um fim maninho

 

Hoje os meus passos são já diferentes

Daqueles que caminhei em tempos

São doentios, cobardes e abafados.

 

Dia após dia os meus gestos quentes,

Tornam-se tristes. Agora nos campos

Nascem árvores, flores ou cardos.