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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Os Felícios! #11

Resposta a este convite da Ana

Episódio 1

Episódio 2

Episódio 3

Episódio 4

Episódio 5

Episódio 6

Episódio 7

Episódio 8

Episódio 9

Episódio 10

A certeza do aumento da família, cada vez mais visível no ventre arredondado de Maria Felícia, transformou totalmente o ambiente caseiro dos Felícios.

De lado ficaram definitivamente os telemóveis e o respectivo uotessape. Apenas Mário Felício ainda o usou durante umas semanas numa tentativa de falar com alguém de casa, mas como não obteve qualquer resposta acabou por desistir. Também se tornou curiosa a sua relação com a irmã, tantas vezes comparsa de festas e saídas nocturnas e agora sentia-a como ela fosse… uma estranha.

Na verdade Mário Felício não sabia ou não queria saber da gravidez da irmã e fazia todos os possíveis para se desencontrar dela.

Ao invés, o futuro avô Felício parecia andar nas nuvens. Na praça onde normalmente costumava parar o táxi pela manhã, já todos sabiam da novidade natalícia. Alguns ousavam chegar mais longe através de brincadeiras parvas e dichotes a que Felício respondia, por vezes a rir e outras com maus modos. Apostava todavia que a futura criança seria um rapaz e às dúvidas apresentadas pelos seus colegas, respondia invariavelmente:

- Lá em casa quem mando sou eu. Se digo que vai ser um rapaz… é um rapaz, mai'nada! Assim que ele nascer faço-o logo sócio do meu clube…

Houve mesmo quem lançasse uma ideia entre o machismo e o imbecil:

- E se for uma cachopa Felício? Também a fazes sócia do teu clube?

Resposta pronta:

- Obviamente! Antes do meu que do teu…

Entretanto Felícia aceitara mais uns trabalhitos de forma a “apouchar” mais uns euros para poder comprar coisas para a criança. Havia muito tempo que a roupa pequena dos filhos fora entregue a uma prima, mãe de uma ranchada de catraios.

Com o dinheiro ganho já comprara um berço, um marsúpio, um fraldário, uma banheira e algumas roupas. Todavia a filha parecia ainda não estar ainda bem consciente do seu estado e daí gastar mais dinheiro em vestimentas para esconder a gravidez do que em utilidades para a futura criança.

Certa noite, à mesa, a mãe sente que tem de fazer uma pergunta à filha. Teme, todavia, a sua reacção já que Maria Felícia tem um feitio… meio esturrado! Respira fundo e finalmente propõe-se a questionar:

- Filha, posso saber uma coisa?

A futura parturiente rabisca qualquer coisa num guardanapo usado com um lápis que apanhou algures e responde quase por instinto:

- Diz lá mãe…

Um silêncio entrou na cozinha de odores vários e finalmente:

- Quem é o pai dessa criança?

Maria Felícia ergue-se devagar da desengonçada cadeira e dirige-se em passo lento para o corredor parecendo fugir a dar uma resposta. Por fim devolve:

- Nem eu sei… mãe. Aquela noite foi… absolutamente inesquecível! Como podes ver - e apontou para o ventre dilatado.

A mãe leva a mão à boca estupefacta com a resposta e desabafa:

- Santo Deus… que família mais destrambelhada esta!

Gratidão

Obrigado, pai e mãe

Por me fazerem nascer.

 

Obrigado, mulher e companheira

Por caminhares sempre a meu lado.

 

Obrigado, meus filhos

Por escutarem as minhas palavras.

 

Obrigado, meus amigos

Por me secarem as lágrimas.

 

Obrigado, aos que me lêem

Por só assim vale a pena escrever.

 

Obrigado, a quem me detesta,

Porque assim sei que existo.

 

Obrigado, meu Deus

Por me indicares o caminho!

Vi e sente!

Vi o teu crescer lento,

tão lento que nem parecias vivo.

Vi os medos por ti elevarem-se,

a dramas e tragédias sem razão.

 

Vi o ventre de tua mãe ficar redondo,

qual fruta verde e vermelha.

Vi a alegria dos teus movimentos,

como se fosses um irrequieto.

 

Vi a azáfama em teu redor

como se fosses o único no mundo.

Vi a tua forma franzina mas serena,

oferecendo finalmente calma e alegria.

 

Vicente! Isto tudo eu vi

e senti!

 

 

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