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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos Tontos - 24

Olhava o envelope com desconfiança. Sabia que dentro daquele subscrito estaria certamente notícias sobre o seu futuro.

Mas tardava em abrir. Tinha medo, insegurança, desconfiança, um ror de dúvidas.

Caminhava pela enorme sala quase vazia de parede a parede. Sempre que passava pelo rectangulo branco olhava-o de soslaio como se ele fosse um envelope-bomba.

Sentiu o telemóvel a tremer no bolso. Retirou-o e percebeu que era a mulher. Achou melhor não atender mas conhecia-lhe a teimosia e assim:

- Estou...

- Dário, que diz a carta?

- Ainda não abri...

- Porquê?

- Porque não. Receio o que ela tenha para me dizer.

- Mas tu não sabes sem a abrir. Não vale a pena fugires.

Ele tinha consciência da razão dela, todavia receava. Com todos os poros da sua pele.

- Dário! - insistiu ela.

Ele numa voz quase sumida respondeu:

- Estou aqui...

- Abre a porra da carta... - gritou ela.

Dário aproximou-se do envelope, abriu-o, desdobrou o papel e leu. A mulher do outro lado da linha aguardava, impaciente. Finalmente respondeu:

 - Está em branco... Não diz nada!