Contos Tontos - 24
Olhava o envelope com desconfiança. Sabia que dentro daquele subscrito estaria certamente notícias sobre o seu futuro.
Mas tardava em abrir. Tinha medo, insegurança, desconfiança, um ror de dúvidas.
Caminhava pela enorme sala quase vazia de parede a parede. Sempre que passava pelo rectangulo branco olhava-o de soslaio como se ele fosse um envelope-bomba.
Sentiu o telemóvel a tremer no bolso. Retirou-o e percebeu que era a mulher. Achou melhor não atender mas conhecia-lhe a teimosia e assim:
- Estou...
- Dário, que diz a carta?
- Ainda não abri...
- Porquê?
- Porque não. Receio o que ela tenha para me dizer.
- Mas tu não sabes sem a abrir. Não vale a pena fugires.
Ele tinha consciência da razão dela, todavia receava. Com todos os poros da sua pele.
- Dário! - insistiu ela.
Ele numa voz quase sumida respondeu:
- Estou aqui...
- Abre a porra da carta... - gritou ela.
Dário aproximou-se do envelope, abriu-o, desdobrou o papel e leu. A mulher do outro lado da linha aguardava, impaciente. Finalmente respondeu:
- Está em branco... Não diz nada!