Contos tontos - 15
Sentia nas mãos o poder todo. Naquele momento ele era o dono de si mesmo.
Sentia-se sempre assim quando viajava no seu potente veículo de duas rodas. Riu-se daquela permanente discussão de um seu amigo entre mota ou moto.
Acelerou e o ponteiro do velocímetro ultrapassou os três números. Continuou a puxar pelo veículo. O vento batia-lhe com força no peito e arrefecia-o.
Mas ele nem sentia o frio da tarde tal era a liberdade que se espraiava à sua frente no alcatrão cinzento. Ultrapassava veículos a uma velocidade estonteante.
Sentia a vibração do asfalto nas mãos mas continuava a acelerar. A estrada à sua frente tendia a estreitar-se quanto maior era a velocidade empreendida.
Num rasgo de lucidez percebeu que ia demasiado depressa e foi pausadamente desacelerando até a uma velocidade dentro dos limites.
Desviou-se para a direita deixando que os carros mais apressados o ultrapassassem. Quando deu por si conduzia tão devagar que pode finalmente endireitar-se.
O vento continuava a bater-lhe no peito mas com menos força.
Uma mão feminina tocou-lhe na perna e conseguiu ouvir a pergunta:
- Porque vais tão devagar?
Ele respondeu:
- Porque simplesmente quero chegar…