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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

Contos tontos - 13

- Estou plenamente consciente que jamais serei totalmente feliz... - disse ela assim do nada.

- Porque dizes isso? - questionou o namorado.

- Basta ter de escolher...

- Não percebi!

A tarde estival colhia-se branda. O sol escondia-se já por detrás do horizonte anilado, espraiando nas águas uma réstia de luz alaranjada. Ela olhou o rapaz e duvidou:

- Como não percebes? Está tudo implícito nas nossas decisões...

- Oh miúda... pára um pouco. Deixa-me então resumir... Tu assumes que desde que tenhamos uma opção a tomar nunca seremos felizes?

- Justamente... Vês como percebes!

Ele riu-se e abanou a cabeça.

Ela observou-o naquele gesto e voltou:

- Porque te ris? Não devias, sabes...

- Rio-me porque é o que nos separa dos outros animais é essa tomada de consciência de poder optar...

- Até pode ser... Mas não invalida o que afirmei... Jamais serei feliz porque tenho de escolher entre isto ou aquilo... Quando, na verdade, quero ambas as coisas....

Ele voltou a sorrir... E retorquiu:

- E no amor também há opções?

Ela calou-se não respondendo logo. Ficou a matutar na resposta. Finalmente:

- Claro que há... obviamente!

Ele perdeu instantaneamente o sorriso.

 

 

 

 

Contos tontos! - 12

Nas suas memórias, mesmo as mais remotas sempre vira pai e mãe em constantes zaragatas. E quase tudo servia para discussão. Quando o tema não passava pela sua mera existência era o regresso tardio a casa do pai ou o cheiro nauseabundo a perfume barato da mãe.

Demasiadas vezes o usavam como arma de arremesso contra o outro. O jovem sentia-se nessas alturas somente uma pena que voava ao sabor do vento. Quando a discussão amainava, lá vinha o aconchego do pai ou da mãe tentando devolver alguma serenidade, que ele depressa percebia jamais existir.

Adaíl habituou-se por isso a resguardar-se no seu quarto onde, longe das discussões, ouvia Reimmstein em doses cavalares. Apreciava Sepultura ou Korn mas aquela banda alemã preenchia-lhe na plenitude os seus vazios. E amansava a sua raiva!

Mas pouco a pouco na sua mente foi crescendo uma idiea. Parecia idiota e sem sentido, mas foi a serenidade que o ajudou a tudo preparar. Até ao mais ínfimo pormenor!

Um dia pela calada da noite, o jovem Adaíl de dezasseis anos, partiu sozinho de casa sem deixar rasto nem recado. Quando de manhã os pais descobrissem a sua ausência, já estaria provavelmente muito longe de casa.

Ainda viu os pais uma última vez na televisão antes de embarcar. E riu-se das declarações dos antecessores que de um modo choroso afirmavam peremptoriamente que não percebiam a razão da fuga...

Adaíl jamais regressou a casa!