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José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

José da Xã

Escrever mesmo que a mão me doa.

O amigo Rafa

A fama do canito do José Trapas havia ultrapassado e muito as fronteiras do concelho. O animal em causa não tinha uma raça bem definida, era feio como uma noite de tempestade, todavia simpático e muito competente no que se referia à caça!

Por diversas vezes, quando o dono se dignava acompanhar os outros caçadores, era vê-lo em busca de coelhos e lebres. Enquanto os outros cães ladravam tentando assustar a caça, Rafa embrenhava-se, qual furão, debaixo das pedras ou penetrava num silvado mais fechado fazendo saltar com rapidez os animais, para enorme gáudio dos caçadores:

- Como este animal nunca vi nenhum… - afirmava um.

- Será que o ti’ Zé Trapas mo vende? – assumia outro o interesse.

Mas o aldeão gostava pouco das referências ao seu cão. Recolhera-o ainda cachorro num velho palheiro, alimentara-o e mimara-o desde sempre. Era um verdadeiro amigo que ali tinha. Viúvo havia muitos anos Zé acabou por encontrar no Rafa a companhia ideal. E o cão jamais abandonava o dono, fosse para onde este fosse.

De pêlo amarelado, emaranhado e comprido, Rafa tinha todo o aspecto de um puro rafeiro sem eira nem beira. Nem manso nem bravo o canito respeitava o dono e a sua vontade. Conseguia perceber o que Zé lhe mandava fazer e obedecia-lhe com competência. Dormiu muitas noites debaixo do alpendre que dava guarida à porta mas depressa passou para dentro de casa fazendo companhia nas noites frias de Inverno.

Um dia antes da época da caça iniciar, bateram à porta do Zé que tentava sem qualquer dente, roer uma castanha crua. Este escancarou a porta e deparou-se com o Juvenal, um velho amigo da época venatória e não só. Surpreso, convidou a visita:

- Entra Juvenal, fica à vontade – e apresentou-lhe uma cadeira – Que te trás por cá?

- Obrigado amigo Zé, mas vou direito ao assunto: quanto queres pelo teu cão? Amanhã começa a caça e eu estou disposto a dar bom dinheiro por ele.

Admirado com a proposta de negócio, devolveu:

- Tu achas que o meu cão está à venda? Nem pensar…

O outro destapou a cabeça desvendando uma calva lisa e lustrosa, coçou-a com a mão esquerda, mas não desistiu:

- Mas não passa de um cão… É um animal… E eu pago bem!

Retirou do casaco sebento e puído uma velha e gorda carteira e mostrou um conjunto de notas prontas a passar de mão. Assim acedesse o Trapas.

- Não, para mim não! O Rafa é um amigo! E eu não vendo os amigos por dinheiro nenhum…

O outro percebeu que provavelmente o negócio não se fazia. Mas desistir não estava nos seus planos. Insistiu:

- Espera aí tu achas que o animal vai viver para sempre. Um dia fica aí debaixo de um qualquer carro de animais… e depois nem dinheiro nem cão.

- E o que tem lá isso? O Rafa é meu não o dou nem o vendo por dinheiro nenhum.

Juvenal não pretendia desistir e por isso mudou de estratégia:

- Então pronto, não me queres vender o cão… estás no teu direito. Mas pelo menos podias emprestar-me para amanhã ir à caça.

Zé olhou para a visita, franziu o sobrolho e perguntou:

- Tu não estás a falar a sério, pois não?

- Claro que estou. Preciso de um cão para ir comigo à caça… E só me lembrei do teu. Ainda te dou dinheiro por cima…

- Mas porventura ter-te-ás esquecido que o Rafa é para mim o meu melhor amigo. E como já te disse a amizade não se compra nem se empresta e muito menos se aluga.

O duelo parecia renhido. O Trapas estava decidido a não largar o seu cão e Juvenal não pretendia um não como resposta. Serenamente o Zé chegou-se próximo da visita e perguntou-lhe:

- Tu ainda estás casado com a Lucinda?

- Ó Zé tu sabes que sim. Que pergunta essa…

- E tu e a tua mulher sempre foram meus amigos?

- Claro. Alguma vez duvidaste?

- Não, não, nunca.

- Então… porque perguntas?

- Bom Juvenal… - e tossiu um pouco como quisesse aclarar a voz – a minha mulher morreu faz daqui a meses, dez anos…

- Já… - interrompeu o outro – parece que foi ontem.

- E desde essa altura nunca mais soube o que era ter uma mulher… Entendes?

- Sim. Mas onde pretendes tu chegar?

- Alugas-me… nem que seja por um dia a tua mulher?

O outro quase caiu da cadeira, tal foi o choque da proposta escutada.

- Tu estás completamente doido? Mas que ideia é essa?

- Tão doido quanto quereres o meu cão.

- Mas… mas… são coisas diferentes- gaguejava.

Foi o momento de Zé Trapas se sentar defronte da visita e explicar-lhe:

- Como deves calcular eu não necessito da tua mulher. Serviu este pedido para te fazer entender que na vida o dinheiro não é tudo! E a amizade, mesmo vindo de um rafeiro, vale mais que todo o dinheiro do Mundo.

Levantando-se dirigiu-se à porta, abriu-a e mostrando assim a Juvenal o lugar para onde deveria ir.

- Portanto tu não me alugas a tua mulher e eu não te alugo o meu cão – concluiu a rir.

Juvenal reconheceu finalmente que não fazia negócio e regressou a casa sem o Rafa. No entanto levou muito com que pensar!

 

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Duas pistolas - XL

 

I

O temporal da noite não deixava quase ninguém descansar. Ora era o vento que sibilava por entre as frestas das velhas portadas de madeira ou a chuva que jorrava do céu em torrentes diluvianas e batia na telha vã. No quarto tentavam descansar de mais um dia de trabalhos Jacinto e a mulher Ofélia. Na sala dormiam insensíveis à intempérie os três filhos do casal: Josué, Nelson e Armindo.

De quando em vez a casa de pedra era sacudida por um trovão. Ofélia rezava baixinho enquanto Jacinto pensava na palha coberta. As trovoadas na aldeia não eram frequentes mas quando chegavam tornavam-se tenebrosas. Mesmo que alguém assumidamente não tivesse receio do fenómeno, não deixava de respeitar.

Jacinto ergueu-se de supetão da cama e perguntou:

- Não ouviste bater à porta?

Ofélia receosa e sonolenta respondeu:

- Acreditas que alguém sai à rua com este tempo?

Jacinto teimou:

- Tu tás mouca mulher… Ouvi bater à porta!

Num gesto decidido saltou para dentro das calças sujas, puxou os suspensórios e mesmo descalço foi confirmar a desconfiança. Pegou num coto de vela, acendeu-o devolvendo ao quarto uma luz ténue e mortiça. Encaminhou-se para a porta quando ouviu alguém do lado de fora chamá-lo:

- Jacinto oh Jacinto!

A desconfiança estava confirmada. Retirou as duas ripas que seguravam melhor a porta da intempérie, rodou a chave e escancarou a sala ao temporal da noite. Um vento forte penetrou no lar e trazendo com ele a visita inesperada. Jacinto olhou para o homem e espantou-se. Refeito do choque de alguém com aquela borrasca se atrever a sair de casa, perguntou:

- Manel? Que fazes aqui a esta hora e com este tempo?

O outro não esperou pelo convite, entrou e sentando-se numa carunchosa cadeira, largou um saco de serapilheira no chão enquanto sacudia as roupas ensopadas. A respiração parecia ofegante e só ao fim de algum tempo Manuel respondeu à questão:

- Desculpa Jacinto aparecer assim, mas estou metido num grande sarilho…

Jacinto e Manuel eram amigos desde sempre. Não havia entre eles qualquer segredo. A não ser…

- Manel que fizeste desta vez? – a preocupação na voz do anfitrião era evidente.

- Nada eu não fiz nada – respirou fundo e voltou – apenas estou a tentar ajudar um camarada de tropa.

- Hum cheira-me que vem aí algo que não vou gostar de ouvir.

- Eu não fiz nada! Foi o Luís Carriço que se meteu numa embrulhada. Acho mesmo que matou um tipo…

- Matou um tipo?

- Creio que sim… Mas diz que foi em legítima defesa. Mas o problema vem agora…

- Mau…

- Ele pediu para fazer desaparecer… as pistolas dele! – e apontou com o queixo o saco que jazia na lage.

- Pistolas?

- Sim as armas do crime.

- E que tenho eu a ver com isso?

- Ele não te conhece e tu podias fazer desaparecer as fuscas…

- Tu já viste o que me estás a pedir? Que seja tão criminoso quanto esse teu amigo. E mais, como pensaste que eu poderia resolver o assunto? Eu tenho uma família a sustentar - e apontou para os filhos que dormiam.

O outro baixou a cabeça quase ao nível dos joelhos e afirmou:

- Estou metido numa grande sarilhada. E não posso dizer ao homem que não. Safou-me tantas vezes de ser apanhado quando eu me desenfiava… que agora fiquei refém deste pedido.

Jacinto coçava a cabeça. Também ele devia favores a Manuel… Mas o pior era imaginar um sítio onde esconder tais armas. De súbito lembrou-se:

- Mas ele querer recuperar esses brinquedos?

- Não, não. Ele pediu-me que as fizesse desaparecer para sempre. Para sempre ouviste?

- Ouvi, ouvi… Para isso só há um lugar…

- E qual?

- Tenho numa das minhas fazendas um algar muito fundo. Um dia caiu para lá um borrego e por lá ficou… Aquilo é impossível de lá chegar, ao fundo. Nem sei quantos metros tem… Talvez seja o lugar ideal…

Manuel levantou-se num ápice e agarrando-se ao amigo deu-lhe um abraço, dizendo:

- Nunca mais esquecerei este favor, ouviste? Jamais…

Jacinto afastou o encharcado amigo, comunicando:

- Amanhã vamos lá!

Mas Manuel tinha outras ideias:

- Amanhã não, agora!

Jacinto olhou-o e declarou:

- Tu achas que não tenho mais nada que fazer… Preciso descansar. E não sei se reparaste chove a potes.

- Melhor ainda. Assim ninguém nos vê…

Manuel tinha alguma razão. Se era para esconder as armas aquela hora com aquele tempo era preferível do que durante o dia. Mas a fazenda ainda era longe e de acesso difícil por entre carrascos e medronheiros. Por fim assentiu:

- Está bem, vamos lá. Deixa-me vestir.

Jacinto saiu da sala onde as crianças dormiam serenamente mesmo após o longo diálogo enquanto Manuel se aproximou da lareira negra onde um tição de oliveira muito velha ainda ardia, devagar.

Jacinto apareceu finalmente preparado para a chuva dizendo:

- Tu vais comigo agora…

Esta indicação não agradou a Manuel, mas perante a forma autoritária como Jacinto falara, aceitou o destino sem nada dizer e pegou no saco.

A porta abriu-se, o vento penetrou na casa e os homens penetraram na tempestade.

II

A Primavera desse ano mostrava-se deslumbrante. Após um Inverno rigoroso, as flores e a erva nasciam pelos prados com profusão. A candeia das oliveiras mostrava-se já com grande fulgor prevendo-se uma produção em grande quantidade. Por todo o lado charruas rasgavam as terras moles. A vida aldeã em toda a sua pujança…

Jacinto agarrado ao cabo do arado, fendia a terra vermelha, atapetada por um manto de erva verde e viçosa que o gado não comia tal era a fartura, num vai-vem permanente e laborioso. Os seus pensamentos vadiavam pela sua juventude e um assobio leve e feliz acompanhava-o.

Estava tão embrenhado na sua tarefa que nem viu dois homens que se aproximaram vindo da estrada de pedra. Vestiam fatos e usavam gravatas negras e pareciam ter caras de poucos amigos. Quando Jacinto deu por eles já ambos estavam muito perto dele. Estancou a correria, sacou do velho lenço, secou o suor que corria pela testa e cumprimentou os visitantes:

- Bom dia… cavalheiros!

Os outros nem se dignaram cumprimentá-lo. Foram directos ao assunto:

- É o Jacinto?

- S… sou… – gaguejou assustado o lavrador.

- Conhece o Manuel da Cruz?

- Sei lá… Conheço tantos Manéis…

- Oiça… não brinque connosco. Conhece ou não o Manuel?

Jacinto atemorizou-se com os homens. Na verdade havia diversos com aquele nome da aldeia, mas raramente se sabia o apelido. Levou a mão à boina que lhe tapava as cãs e devolveu:

- Eu conheço diversos homens com esse nome… Agora com esse apelido…

Um dos homens aproximou-se ainda mais e quase sussurrando, perguntou:

- Jacinto nós queremos saber das armas…

- Quais armas? – O coração de Jacinto batia agora de forma acelerada.

- Ó companheiro… nós sabemos de tudo. O teu amigo Manuel deu com a língua nos dentes… e denunciou-te.

- Denunciou-me como?

- Não te armes em esperto comigo, ouviste?

Jacinto lembrou-se da tal noite de borrasca passada havia alguns meses e da história do Manuel. No tempo que servira no exército ouvira falar daquela gente: agentes de uma polícia especial, com métodos de fazer falar até um mudo. Arrepiou-se ao imaginar o que teriam feito ao Manuel. Serenamente foi dizendo:

- No inverno o Manuel Carroceiro, meu amigo de infância, pediu-me para guardar um saco, mas eu não sei o que ele trazia… - mentiu.

Perante esta última declaração os homens acalmaram mas não desarmaram:

- De certeza que não viste o que o saco tinha?

Jacinto teria de mentir agora de forma mais veemente. O amigo denunciara-o mas o camponês aguentava-se. Foi então dizendo:

- Claro que não, meu caro senhor. O Manel apareceu lá em casa e pediu-me para deitar fora aquele saco. Até lhe perguntei porque não o deitava ele ao que me respondeu que não tinha onde… Depois no dia seguinte fui a uma propriedade minha e deixei lá o saco…

- E agora vamos lá buscá-lo.

O coração de Jacinto quase parou. Seria impossível lá entrar e… sair. Um nervoso miudinho apoderou-se dele mas foi explicando:

- Deitei um saco num buraco que é tão fundo, mas tão fundo que ninguém lá chega…

Os outros riram-se e dando-lhe uma palmada quase amigável nas costas de Jacinto foram acrescentando:

- Agora temos uma boa razão para lá ir medir a profundidade.

Jacinto tremia. Interiormente amaldiçoou a hora em que abrira a porta ao amigo. Um sarilho complicado que teria de resolver, pois os homens não pareciam ser gente para esperar. Finalmente avisou:

- Mas eu não tenho cabos suficientes para lá ir ao fundo. Vão ser necessários muitos metros de corda…

- Faz como entenderes… Queremos as armas cá fora. E depressa!

- E tem de ser hoje?

- Se não for hoje vais passar uma noite aos calabouços de modo que não fujas…

Jacinto olhou a serra, depois o céu anil e finalmente baixou a cabeça e assentiu:

- Bom então deixem-me ir a casa guardar o gado e buscar baraças.

E dirigiu-se ao caminho donde teriam vindo os homens. Estes desviaram-se o suficiente para deixar passar o arado pesado e frio e seguiram o camponês. Em breve chegaria a hora do almoço mas ele nem tinha fome. Por isso disse à Ofélia:

- Não contes comigo para almoçar.

A mulher assustou-se:

- Mas o que se passa homem?

O marido não pretendia preocupá-la:

- Coisas de homens. Já venho.

Sem dar mais nenhuma explicação Jacinto foi ao estábulo, onde as vacas já comiam serenamente e procurou por entre muitas alfaias diversos cabos e uma velha lamparina de azeite. Finalmente pronto partiu ao encontro dos homens que o aguardavam no caminho para a sua fazenda. Aqui chegados dirigiram-se para um monte de mato. Jacinto retirou alguns ramos deixando a descoberto no chão um buraco com certa de um metro de largura. Todos espreitaram para dentro do buraco.

Jacinto preparou-se. Passou a corda por um tronco de uma oliveira. Atou os cabos uns aos outros e finalmente acendeu a lamparina. Finalmente atou o cabo à sua cintura e preparou-se para descer. Mas antes avisou os homens:

- Quando sentirem a corda a ser puxada com força é o sinal para me tirarem lá de dentro.

- Claro amigo. Nós não lhe queremos mal. Só queremos as armas. Traga-as e vamos logo embora…

 III

Jacinto já nem sabia se havia de ter medo, só queria sair daquele pesadelo o mais depressa possível. Em silêncio fez uma breve oração. Nunca fora de evidentes práticas religiosas mas acreditava que só Deus o poderia ajudar.

O tempo passava e a impaciência nos homens passou a ser evidente.

- Vamos lá a despachar isto que não quero dormir aqui – disse um deles.

Devagar o aldeão ajeitou-se e preparou-se para descer. Mas antes acendeu a lamparina que prendeu com uma baraça ao velho cinto que apertava as calças. Devagar embrenhou-se no buraco escuro. Ia à sorte pois não imaginava a que profundidade teria de chegar. Mesmo descendo lentamente depressa ficou sem luz. O buraco era estreito e foi descendo encostando-se à parede fosse com os pés ou com as costas. Num ápice a entrada passou a ser apenas uma lua, cada vez mais pequena. Começou a sentir frio mas nãos parou. Ainda não olhara para baixo desde que iniciara a descida pois a sua visão ainda não se habituara totalmente à escuridão.

Num segundo tudo de alterou. As paredes pareciam ter fugido e ele não tinha onde se apoiar. Passou a baloiçar. Foi a altura de perceber o fundo. E este parecia… perto, já ali a um metro, pouco mais, de si. Deu-lhe ânimo esta visão que desceu mais depressa sempre a baloiçar. Sentiu pelo som que a lamparina poisara no chão.

- Terei chegado?

Mas a dúvida permanecia ainda. Quando os pés tocaram o chão duro. Pegou rapidamente na luz e procurou o saco. Olhou em redor e a dois metros encontrou-o. Pegou-lhe e atou-o a si com vigor de forma a não perdê-lo.

Depois aproveitou e olhou à sua volta aquilo que a luz mortiça lhe deixava ver. E maravilhou-se. Das pedras de tantas cores escorria água. Um arrepio atravessou-lhe o corpo. Era o sinal de regressar. Espreitando o chão reparou nas diversas ossadas dos animais que para ali haviam caído. Uma aventura fantástica que ele guardaria para um dia contar aos seus netos.

Puxou a corda com força e num instante sentiu-se a ser içado. Muito mais devagar que a descer. Quando voltou a sentir as costas protegidas ajudou a elevar-se até à superfície. O dia caía já. Os homens esperavam-no. Ajudaram Jacinto a sair e este desatou o saco e entregou-lhes a razão daquela misteriosa aventura.

- Ora então cá estão elas. Bom trabalho! – disse um dos homens pegando no saco sem o abrir.

Jacinto não queria saber de mais nada, desejando somente regressar a casa. Perguntou então enquanto recolhia todo o cordame:

- Posso ir embora?

- Claro. Cumpriste a tua parte nós cumprimos a nossa.

Jacinto pecou em todos os apetrechos e partiu pela vereda abaixo. Já suficientemente longe desviou-se do caminho que costumava levar e encetou por um carreiro diferente. Mais à frente saltou o muro e entrou num terreno mal tratado tal era o mato. Conhecendo o caminho embrenhou-se no arvoredo até encontrar um monte de pedras. Aqui rodeou o marouço e escolhendo uma só pedra retirou-a do lugar. Debaixo apenas um buraco. Meteu a mão lá dentro e retirou um cabo. Puxou-o uma quantidade de metros até que da ponta aparecesse um velho saco de serapilheira. Abriu o saco e reparou nas pistolas ainda em bom estado.

- O Manel tinha razão. Aqueles tipos não são de fiar.

E voltou a atirar o saco para o buraco.

 

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